sexta-feira, 27 de abril de 2012

Casos de família no alto sertão da Bahia


Chamo a atenção do leitor desavisado, pois esta história dos Vasconcelos Bittencourt que começo a contar provoca a lembrança de outro episódio, mas que não podem ser confundidos.
Por isso mesmo reitero, são duas histórias diferentes, com motivações diferentes, e que se transcorrem de forma diferente. Um dos casos ficou registrado em romances, mas também em inquéritos policiais. O segundo, não tão conhecido, espera que as penumbras que o cercam possam se dissipar.
Entre as histórias transcorreram trinta anos a quarenta anos. Os acontecimentos que envolveram o rumoroso caso de Pórcia e Leolino levaram a uma longa guerra entre famílias sertanejas. A outra história, dos Vasconcellos, foi de conhecimento restrito e teve razoável assimilação pela sociedade à época, legitimando-se segundo procedimentos considerados apropriados.
A guerra entre os Mouras, Castros e Tanajuras contra os Pinheiro Cangussus é contada em diversas versões: o romance de Afrânio Peixoto, "Sinhazinha"; o "ABC de Castro Alves", de Jorge Amado; o cordel "O Idílio de Pórcia Castro e Leolino Canguçu", de José Walter Pires, o texto "Idílio de Pórcia e Leolino" de Dário Teixeira Cotrim; os estudos em "A História de Castro Alves", de Pedro Calmon, e a síntese magistral de Lycurgo Santos Filho: "Uma comunidade rural do Brasil antigo".
Castro Alves, o poeta maior, apenas nascera, e as lágrimas da senhora sua mãe caiam sobre o seu berço, triste com os fatos que ainda se desenrolavam. Ela podia ouvir de um quarto próximo, os gritos surdos do choro da sua irmã Pórcia.
Neste tom é que Jorge Amado inicia o seu conto sobre a história de amor. São tons dramáticos e o autor, em geral, busca ser mais fiel aos apelos da emotividade que a trama exige, do que à estrita realidade dos fatos.
Farei um resumo da história, procurando me restringir àquilo que de consensual se pode observar dos diversos registros literários e documentais.
Pois bem, vamos aos fatos. Pórcia e sua irmã eram conduzidas desde o alto sertão, da localidade de Cajueiro (no atual município de Guanambi) até Curralinho, na borda do Recôncavo baiano, hoje conhecido como município de Castro Alves. Ali Clélia Brasília se casaria em breve com o futuro pai do poeta.
Um amigo dos Castros, da família Tanajura, estava encarregado de comandar a comitiva, e por sugestão sua, resolvem, pedir acolhida no sobrado do Brejo, de propriedade dos Cangussus, na localidade de Bom Jesus. Seria uma parada natural para descanso, tendo em vista a longa viagem. Como de costume, as portas se abriram para os amigos.
Foi a partir desta estadia que os tristes fatos se sucederam, tendo uma motivação amorosa como estopim.
Segundo os relatos, na breve convivência da pousada, Pórcia Castro e Leolino Cangussu se envolveram emocionalmente. Um amor impossível, dir-se-ia, pois Leolino era casado.
Quando da partida do grupo, no entanto, dá-se a confusão: Pórcia é retida. Contra a vontade ou não, permanece por três semanas no sobrado dos Cangussus, enquanto a tensão entre as famílias aumenta.
Em seguida, com o apoio dos Mouras, Castros e Tanajuras, empreendem um assalto à casa grande do Brejo, consumando o resgate da moça. Esta ação, longe de encerrar o caso, representou o começo de uma luta encarniçada. O ódio dos Cangussus se volta especialmente contra os Mouras, por considerar que sendo aparentados, não se podia admitir seu envolvimento na situação.
Segue-se o assassinato de Martiniano de Moura e Albuquerque, pai do Barão de Vila Velha, em fins de 1845 ou início de 1846, um ano após o ocorrido em Bom Jesus. O autor deste crime foi Leolino Cangussu, que veio a ser morto por um grupo armado, em 1847, em Minas Gerais, para onde fugira. Por trás desta morte e da tentativa contra a vida do Coronel Exupério Cangussu, no mesmo período, estava Manuel Justiniano de Moura e Albuquerque, irmão de Martiniano, e sobrevivente de um atentado conduzido pessoalmente por Leolino.
Tudo isto foi objeto de inquérito e processos judiciais que se encerraram apenas em 1850.
Foram cinco a seis anos que marcaram o sertão, do Cajueiro a Bom Jesus, da Boa Sentença à Vila Velha, de Caetité a Curralinho e às Minas do Rio de Contas.
Esta epopeia sertaneja é aqui historiada de forma sintética e evitando os aspectos polêmicos e o caráter romanesco que ganhou ao longo do tempo. A descrição tem como objetivo servir de ilustração da complexidade das relações familiares  e da moral que se cultivava. Afora isto, se verá adiante, pouca serventia teria para o que se conta a seguir.
Neste outro caso, a figura central é o Capitão Faustino Vasconcellos Bittencourt, que à época dos acontecimentos até aqui narrados, sequer havia sido gerado. Os novos fatos são a verdadeira motivação deste texto.
Faustino, ou Dozinho para os amigos mais próximos, casou-se em primeiras núpcias com uma Moura, Camila. Rizério de pai e Moura da sua mãe Constança Rosa, de quem se noticia ser prima do Barão de Vila Velha.
Vejam que é preciso ter cuidado para não se confundir. Tantos são os nomes, por vezes com o mesmo sobrenome, mas que correspondem a pessoas diferentes, que meu pai - que sabe mais histórias que todos os filhos somados, saiu com esta: "parece mais os Cem Anos de Solidão", numa referencia ao best seller produzido por Gabriel Garcia Marques. 
Feita a ressalva, prestemos atenção aos nomes.
Pois bem, Dozinho torna-se viúvo relativamente jovem. Segundo anotações familiares, são registradas segundas núpcias de Dozinho com D. Francisca, mãe de Leônidas.
Entre estes matrimônios, no entanto, dá-se conta de um relacionamento com D. Sergia, do qual nasceram algumas filhas, entre as quais, Fidelcina e Zinzinha.
Este enlace e mais precisamente a forma como se deu é o âmago da nossa narrativa. A partir deste ponto a história tem contornos de incerteza quanto a motivações e minúcias, mas são ricas o suficiente para serem contadas e quem sabe, outras versões, mais românticas ou, ao contrário, mais verossímeis possam surgir.
Viúvo, Faustino se encanta por uma moça de família honesta e de origem humilde, e por razões que se perderam no tempo, a união não se formalizou como de praxe, ganhando contornos novelescos.
Para se beneficiar do conforto da convivência da moça, Dozinho resolve entender-se com os pais dela. Garantindo-lhes melhores condições para enfrentar as dificuldades do dia a dia, busca demonstrar de forma efetiva o seu interesse, obtendo assim o consentimento dos pais em dar-lhe a sua guarda.
Mas, não sendo um casamento formal, era preciso arranjar uma situação em que tal fosse possível, sem que alguma mácula pudesse recair sobre a família. A solução encontrada foi aparentemente simples: o rapto da menina!
Tudo devidamente combinado com os pais da moça, dá-se o sequestro e o sumiço de Sergia. Era noite quando um grupo agiu com a cautela necessária e a rapidez suficiente para que não se gerasse resistências que pudessem comprometer o acordo já firmado. Sergia foi levada.
Chorado o seu desaparecimento, algum tempo se passou até que surge a notícia de que ela se encontrava na Lagoa do Negro, nas terras de Dozinho. Estava, e lá ficou. Tratava-se de encarar um fato consumado. Numa consequência natural, nasceram as filhas, que posteriormente vieram a compartilhar do convívio dos demais irmãos e sobrinhos.
Igualmente consensuado teria sido o desenlace da situação.  Um casamento para a Sergia teria se providenciado, para garantir a sua proteção. Liberado Faustino daquelas responsabilidades, pode realizar suas segundas núpcias, desta vez com D. Francisca.
Como se vê, os dois casos foram cercados de circunstâncias e reações bastante distintas. Em um deles, não houve mortes ou repercussões políticas, o que ocorreu em abundância no outro. No caso dos Vasconcellos Bittencourt faltou um romancista para contar “uma linda história de amor”.

NVJ

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A história e as histórias dos Vasconcellos


O recurso de buscar fontes bibliográficas, pesquisar documentos, teses universitárias, registros históricos e coisas do gênero na elaboração de relatos, tem suas vantagens e desvantagens. Este é um procedimento mais do que razoável quando se perdeu o fio da meada, e as informações de tão esparsas, dão lugar a mais incertezas do que certezas.


Mas o bom mesmo, é como faziam nossos pais e os pais deles, provavelmente, que contavam histórias reunidos em torno de uma mesa, ou se aquecendo nas noites de São João. É a chamada história oral, que tem sabor especial e as vezes dá prá imaginar a cena de tão bem descrita. 


Os tempos mudaram e agora nos reunimos em torno do computador - cada um à frente do seu próprio engenho, cada vez mais potente em gigabytes. Distantes espacialmente entre si: em casa, no trabalho, no shopping, é bom que se registre. As redes sociais reinventam assim as rodas de família, não necessariamente todos ao mesmo tempo, nem no mesmo lugar, mas acaba dando certo. 


Mas chega de conversa.


Esta história que começa a ser registrada na forma escrita, tem mais as características destas últimas que das primeiras - aquelas que buscam a comprovação documental. Além do que esta forma de contar em uma vantagem adicional. É que quem sabe um pedacinho a mais da história, conta; se a versão difere um pouco da que ouviu, explica; fica assim mais rico, mais coletivo, mais família.

Pois bem. Como se sabe Camila Moura, filha de Wenceslau e Constança, e esposa de Faustino, pai de Osório, veio a falecer das complicações de um dos seus partos. Prá deixar claro: foi Camila, que ao parir Manoel Camilo e Camilo Manuel, acabou perdendo a vida e com ela um dos meninos.

Ocorre que a meninada - José, Bela, Virgílio, foi morar com os avós maternos, a exceção de Camilo, o mais novo, que sobreviveu. Osório estava entre estes netos de Wenceslau que deixaram o convício do pai. 

Tempos depois, já casado, homem formado, Osório vai visitar Faustino, e assim foi conhecendo um pouco os hábitos paternos e a sua labuta diárias com os problemas típicos do campo.

Faustino vivia na Capoeira, e estava especialmente preocupado com a quantidade e porte dos roedores que transitavam na casa e no depósito. Resolve assim adotar um predador, passando a criar uma cobra. Não uma cobra qualquer, mas uma "cobra preta" que, dizem os entendidos, não é venenosa, e deu conta de resolver o problema. Mas consta que Faustino desenvolveu um apreço especial pelo réptil. Conta-se que ele conversava com o animal e acreditava ser por ele compreendido. Costume que de vez em quando se repete na família, mudando o personagem e o tipo animal.

Mas Osório não sabia de nada o que se passava. Assim, chegando à casa do pai, depara-se com a peçonha e não contou conversa, numa atitude bravia, pegou um porrete e aniquilou a serpente, certo de que tinha realizado um grande feito. 


Faustino estava fora, na roça ou não muito distante do sítio. Osório, orgulhoso, aguarda ansiosamente a chegada do pai para mostrar o que lhe parecia ser um troféu: a serpente trucidada!

A reação do pai, no entanto, não foi a esperada. Desolado, Faustino passou a lamentar as conseqüências daquele ato, e dizer um quanto era afeiçoado ao ofídio.

O filho, que só pensou em agradar, foi ficando desconcertado a cada comentário do pai, e a visita acabou sendo menos prazerosa que imaginou, e certamente mais abreviada.

NVJ 12/04/2012

sábado, 7 de abril de 2012

Os Vasconcellos Bittencourt na Guarda Nacional



Quem acompanha estes escritos sobre os Vasconcellos, há de se perguntar a origem de tantos coronéis, majores e capitães. Qual significado dessas patentes, seja do Major Rodrigo, do Capitão Faustino ou do Coronel Cazuza?

Nas edições do Diário Oficial da União, da virada do século XIX para XX, encontram-se em grande número, decretos de nomeação de civis, passando a formar batalhões, brigadas e esquadrões.

Em 13 de julho de 1899, por exemplo, são nomeados para a Guarda Nacional, no Estado da Bahia, Comarca de Ituassú (grafado assim mesmo), para o 38º Batalhão de Infantaria, o Tenente-Coronel-Comandante Wenceslau Risério de Araújo, assim como, o Capitão-ajudante Florindo Risério de Moura, seu filho. Na mesma edição do DOU é nomeado para o 4º Esquadrão, do Regimento de Cavalaria da mesma Comarca, o Capitão Faustino de Vasconcellos Bittencourt, genro do Comandante.

Para refrescar a memória, Wenceslau Risério de Araújo e Constança de Moura e Albuquerque, são pais de Camila Risério que se casou com Faustino. Desta união surgem os Risério de Vasconcelos.

A 5 de fevereiro de 1902, desta vez em São Paulo, na Comarca de Casa Branca, é dispensado do cargo por tempo indeterminado, o Coronel José de Vasconcellos Bittencourt, até então comandante da 8ª Brigada de Cavalaria. Também numa mesma edição (de 14/02/1902), decreto torna sem efeito as nomeações que vigoraram desde 30 de setembro de 1899, não apenas do irmão do Coronel Cazuza, Augusto de Vasconcellos Bittencourt (de Major-Fiscal para a mesma comarca), assim como, de outros tantos Vasconcellos Bittencourt: Gabriel, Fernando e Osório. 

Em 1905, no entanto, era a vez de Marcolino Risério de Moura – prefeito de Brumado tantas vezes, e filho de Wenceslau e Constança, ser promovido para Coronel Comandante da 106ª Brigada da Comarca de Caetité.

Para compreender este sistema paramilitar é preciso recuar no tempo, a 1831. Sem aprofundar muito na análise do tema, verifica-se que vários estudiosos interpretam que a Guarda Nacional teve ao longo da sua existência um papel essencialmente político.

Criada originalmente sob a alegação de contribuir para a consolidação da independência brasileira, A Guarda surge com a Regência, após a abdicação do trono por Pedro I, para manter o status quo. Isto significava garantir a propriedade da terra e o sistema escravagista.

Reorganizada em 1850, ganhou força no período da Guerra do Paraguai (1864-1870), e foi novamente reorganizada em 1873. Após a Abolição da Escravidão e a Proclamação da República novo papel é reservado aos coronéis e sua força paramilitar, servindo de base ao novo arranjo político-institucional. Finalmente, em 1918, uma nova mudança, representou na prática a sua incorporação pelo Exército Brasileiro.

Embora seja rápido o panorama aqui traçado, analisando o nível da sua inserção na Guarda Nacional, pode-se dizer que os Vasconcellos Bittencourt (e especialmente os Risério e Moura) tiveram papel político importante no exercício do poder nas regiões em que viveram, seja em Casa Branca ou em Bom Jesus dos Meira, na Vila Velha, no Brejo Velho ou nas Minas do Rio de Contas.

NVJ, 07/04/2012

(1)   As nomeações aqui mencionadas podem ser encontradas nas edições do Diário Oficial da União de: 13 de julho de 1899; 5 e 14 de fevereiro de 1902; e 8 de novembro de 1905.
(2)   Sobre a Guarda Nacional foram consultados alguns estudos, entre os quais:
1.      A Guarda Nacional nos Municípios. Disponível em http://arshistorica.ifcs.ufrj.br/jornadas/IV_jornada/IV_07.pdf
2.      A Guarda Nacional em Minas Gerais. Disponível em http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/24673/D%20-%20FARIA,%20MARIA%20AUXILIADORA.pdf?sequence=1 
3.       Lei  No.  602, de 19 de setembro DE  1 8 50. Dá nova organização á Guarda Nacional do Império.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Fazenda paulista dos Vasconcellos



José de Vasconcellos Bittencourt Junior, ao chegar a Casa Branca, por volta de 1878, formou a Fazenda Terra Vermelha com um provável primo. Terras estas nas quais foram morar Rodrigo e seus descendentes, ao chegar a São Paulo na virada do século XIX para XX.

O referido irmão é mencionado pelo jornal O Tambaú(1) como sócio da propriedade. Segundo a mesma notícia, este irmão teria sido nomeado para a Coletoria Estadual da cidade, cargo exercido por ele até 1923. A questão é: Quem era o irmão de José de Vasconcellos Bittencourt Júnior mencionado naquele relato? Prá começar, temos duas pistas: foi co-proprietário da Fazenda Terra Vermelha e primeiro Coletor de Tambaú.

Fontes históricas pesquisadas(2) referem a uma “fazenda agrícola chamada Palmeiras da Terra Vermelha de propriedade de José de Vasconcellos Bittencourt e outros”, banhada pelo Rio Tambahú, com 824,3 hectares e dividida judicialmente em 1884, antes pertencente ao Conde de Valença.

No mesmo estudo, há outra referência à “Fazenda Terra Vermelha”, no distrito de Tambahú, também pertencente ao mesmo José de Vasconcellos (Coronel Cazuza)(3). Noutro trecho menciona a Fazenda Terra Vermelha “de Cima”, localizada a 6 km da estação de Tambahú, também pertencente ao “Capitão” (sic) José de Vasconcellos Bittencourt e outros, com área de 1.259 hectares.

Então, com diversas denominações, ou simplesmente partes ou desmembramento das mesmas terras, a Fazenda é sempre dada como de propriedade do Coronel . É noutro estudo, contudo, que analisa o financiamento da atividade agrícola na história de São Paulo que, finalmente, surge o nome do suposto irmão de José de Vasconcellos Bittencourt. A Fazenda terra Vermelha é citada como sendo de José e Augusto de Vasconcellos Bittencourt(4).

Para confirmar esta relação de parentesco foi investigada a informação de que o referido Augusto fora nomeado Coletor de Tambaú. Uma busca no Diário Oficial da União, de 1912, resultou na confirmação parcial: Augusto é nomeado, em abril daquele ano, para o cargo de ajudante e, posteriormente, em outubro, designado como Escrivão substituto da Coletoria de Rendas Federais de Casa Branca-SP.

Noutra fonte de pesquisa, procurando indícios da passagem de Augusto de Vasconcellos pela Bahia, uma nova citação é encontrada. Trata-se do trabalho do historiador Erivaldo Fagundes Neves (UEFS), sobre os “Sampauleiros”(5) que tiveram procurações registradas no Cartório de Caetité, autorizando a venda de escravos. Além do nome de Augusto de Vasconcelos Bittencourt (com cinco procurações), temos uma única procuração em nome de Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt. Nove outras procurações estão associadas a José de Vasconcelos Bittencourt Júnior.

Parece-me assim, estabelecido um vínculo de parentesco entre José e Augusto de Vasconcellos Bittencourt, como oriundos das Minas do Rio de Contas, proprietários de uma fazenda cuja família de Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt passou a residir.

Vale dizer, que também foram anotados registros pontuais de nascimento de outros Vasconcellos na mesma Fazenda Terra Vermelha, a exemplo dos Vasconcellos Spínula (variação de Spínola) (6). Observa-se que alguns dos Vasconcellos Spínula encontrados nestes levantamentos em Tambaú, são igualmente oriundos das Minas do Rio de Contas, tendo se transferido para São Paulo mais ou menos no mesmo período. São indícios da intensa migração.

No entanto, informações obtidas posteriormente permitiu concluir que Augusto não era irmão de José de Vasconcellos Bittencourt, e sim um primo em segundo grau (7). Augusto era filho de Dona Anna Amélia(1810-1909), casada com o Major Francisco de Vasconcellos Bittencourt (1810-1886).


NVJ.


(1)   Ver em A Fazenda Terra Vermelha
(2)   Informação disponível na Revista do Instituto Geográfico e Histórico de São Paulo,  vol. XII, de 1906 (pag. 172 e 212). Como se pode verificar em: http://www23.us.archive.org/stream/revistadoinstit02paulgoog/revistadoinstit02paulgoog_djvu.txt
(3)   José de Vasconcellos Bittencourt passou a ser conhecido popularmente como Coronel Cazuza. Esse apelido teria herdado do próprio pai, que adotou anteriormente essa mesma denominação, na Bahia.
(4)   Ver Tese de RODRIGO FONTANARI – “O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO: UMA ANÁLISE HISTÓRICA SOBRE O CRÉDITO NO COMPLEXO CAFEEIRO PAULISTA: CASA BRANCA (1874-1914) UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
(5)   Ver o texto “SAMPAULEIROS TRAFICANTES: COMÉRCIO DE ESCRAVOS DO ALTO SERTÃO DA BAHIA PARA O OESTE CAFEEIRO PAULISTA”, Disponível em: http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n24_p97.pdf
(6) Os Vasconcellos Bittencourt também são Spínola, por descendência de Thimóteo Souza Spínola. Também açoriano, três das filhas de Thimóteo se carasaram no Brasil com três Vasconcellos Bittencourt, inclusive José, avô de Rodrigo e José Júnior. 
(7) Mais informações em https://vasconcelosbahia.blogspot.com/2017/05/augusto-de-vasconcellos-bittencourt.html

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Fazenda Terra Vermelha

A curiosidade nos impulsiona a perguntar o que levou o nosso parente - o Major Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt, a fazer a travessia entre a Chapada Diamantina, onde nascera, até Casa Branca, no norte de São Paulo, levando consigo mulher e filhas. Será que ele tinha outros vínculos de parentesco que o atraíam àquelas paragens? É com o objetivo de buscar desvendar este mistério que estas linhas começam a ser escritas.

No final do século XIX, estimulada por medidas governamentais pós Abolição da Escravatura,  havia grande ebulição no país com a chegada de milhões de italianos, japoneses, alemães, poloneses, etc, que se destinavam em especial para o centro-sul. Para se ter uma ideia, meio século antes, em 1854, estimava-se uma população de 650 mil habitantes em toda a província da Bahia e de 360 mil em São Paulo (1). Éramos a metrópole, mas já se apresentavam indicadores de que o sul cresceria rapidamente. Este novo el dorado atraía muita gente.

Esta pode ter sido uma das motivações do finado Rodrigo: aproveitar as oportunidades que se abriam, afinal as minas do Rio de Contas há muito já estavam exauridas, ou pelo menos, já não se encontravam com a fartura de antes, o ouro e outras preciosidades. A agricultura e a pecuária já haviam se tornado atividades econômicas mais relevantes.

Mas quero voltar ao título destes escritos para dar lógica ao texto, que se justifica mais pelo interesse de buscar a trilha percorrida pela família, do que um estudo sócio-econômico. Pois que sirvam estas últimas observações como pano de fundo, para a descrição dos achados que este pesquisador de horas vagas quer relatar.

Chamou-me atenção ao ler as anotações feitas a partir do Cartório de Registro Civil de Casa Branca-SP, sobre o nascimento das primas e primos (2), a observação de que a criança viera ao mundo "na casa de sua residência, na Fazenda Terra Vermelha, neste município". Esta menção pode ser observada quando o Major foi registrar a neta Isolina, filha de Camila, bem como no registro de outros dois filhos Carino e Antenor. Quando Umbelina, filha de Eugênia, veio ao mundo foi indicado como local de nascimento a Fazenda Terra Vermelha de Baixo.

Assim, podemos dizer que há elementos consistentes que vinculam a família do Major Rodrigo à citada Fazenda.

Ao tempo em que peço desculpas pelo tom acadêmico, justifico pela necessidade de apontar evidências firmes que ajudem a esclarecer esta passagem histórica que envolve o surgimento do ramo paulista dos Vasconcellos das Minas do Rio de Contas.

Pois bem, acontece que aquele que é considerado um dos "pais" do município de Tambaú - SP, emancipado do município de Casa Branca, foi nada mais nada menos que o Coronel José de Vasconcellos Bittencourt, tendo sido o primeiro presidente da Câmara de Vereadores. Anualmente, a Loja Maçônica Humanidade e Progresso, da qual também foi fundador, distingue pessoas que se destacaram na comunidade com a Comenda "Coronel Cazuza", apelido que popularizou o José de Vasconcellos (3).

O Coronel José de Vasconcellos Bittencourt (gravura acima), segundo o site local, também nasceu nas Minas do Rio de Contas, em 15 de dezembro de 1848, falecendo em Tambaú, em 30 de janeiro de 1925, aos 76 anos.

Não bastasse o sobrenome e a referência à Rio de Contas como local de nascimento, o jornal O Tambaú, informa ter o coronel chegado à Casa Branca por volta de 1878, tendo inicialmente se transferido da Bahia para Minas Gerais, e posteriormente para a São Paulo. Informa ainda, a mesma fonte, que chegando a Casa Branca, o Coronel José de Vasconcelos Bittencourt adquire uma grande gleba de terras, no distrito de Tambaú, "onde formou com seu irmão a Fazenda Terra Vermelha". Ressalte-se que este irmão não se tratava do Major Rodrigo e sua família, que a esta época ainda permaneciam na província de origem.

Bem, já sabemos que Rodrigo e família passou a residir numa Fazenda Terra Vermelha  que leva o mesmo nome da Fazenda criada por dois irmãos, um deles chamado José de Vasconcellos Bittencourt. Resta-nos saber, quem é o irmão mencionado como sócio proprietário das terras e qual o efetivo grau de parentesco com o nosso Major.

Mas isto é assunto para um próximo texto.

(1)CHOROGRAPHIA DO BRASIL, por João Félix Pereira, 1854 (pag. 10 e 12) Encontrado em: http://archive.org/stream/chorographiadob00peregoog#page/n5/mode/2up
 (2) Ler a respeito "O Major Rodrigo" em: http://vasconcelosbahia.blogspot.com.br/2012/03/o-major-rodrigo.html
 (3) Jornal eletrônico O Tambaú. Encontrado em: http://www.jornalotambau.com.br/noticias_ver.asp?id=1155

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