Marcolino
de Moura e Albuquerque cursava Direito na Faculdade de Recife quando, em 1865,
irrompe a Guerra do Paraguai em decorrência de disputas territoriais que também
envolveram o Uruguai e a Argentina.
A
mobilização de tropas regulares e voluntárias, ordenadas pelo Império
brasileiro teve grande adesão na Bahia. Até fevereiro de 1866, segundo informe
do Presidente da Província, no Relatório Anual apresentado à Assembléia
Legislativa, 10.189 praças já haviam marchado para o sul.
Destes
soldados, 386 integravam o Batalhão Imperatriz sob o comando do então
Tenente-Coronel Marcolino de Moura e Albuquerque, que suspendera seus estudos
para atender ao apelo nacionalista.
Sobre
sua participação na Guerra são encontrados alguns registros que merecem
destaque porque ajudam a elucidar o seu nível de participação no processo. O
primeiro deles, é descrito no livro “A História da Guerra do Paraguay”
publicado em 1870. No seu volume III, pág. 86, lê-se que:
“Na batalha de 24 de maio, distinguiu-se o
tenente-coronel Marcolino de Moura Albuquerque, comandante do batalhão 22 de
voluntários da Bahia.
Estudando direito em Pernambuco, abandonou os bancos
acadêmicos para acudir ao reclamo da pátria ultrajada: vindo como major desse
batalhão, tomou logo seu comando. Assistiu aos principais combates, e no dia 24
de maio, tomando a bandeira do seu batalhão, pôs-se na frente, e assim guiou na
carga que desbaratou o inimigo.
Esse feito foi elogiado em ordem do dia. Ficando o
batalhão 22 de voluntários muito reduzido, e sendo o batalhão mais moderno foi
dissolvido; oferecendo-se ao seu bravo comandante outro batalhão, não aceitou.”
A
batalha a que se referem os autores é a de Tuiuiti, uma das mais importantes da
guerra e que se desenrola em território paraguaio, em 24 de maio de 1866.
Escrito e publicado logo após a guerra, o livro deixa transparecer um claro o
tom ufanista, o que não tira os méritos de Marcolino de Moura, ao contrário.
O
segundo episódio a comentar revela particularidades que o recrutamento podia
assumir, sobretudo por levar ao questionamento sobre o seu caráter voluntário.
O palco do debate foi o Congresso Nacional. Ali, em 4 de julho de 1867, o
deputado Frederico de Almeida e o deputado Junqueira pautavam a discussão sobre
a validade das eleições recém realizadas no distrito de Lençóis, na Bahia.
Ressalte-se que o Dr. Marcolino de Moura ainda não ocupava uma cadeira no
legislativo. O congressista Frederido de Almeida relatava uma ocorrência
policial havida no município, e sob a alegação de que a participação do tenente-coronel
Marcolino de Moura nos acontecimentos fora indevida, pretendia ver anulado o
pleito.
Conforme
registrado nos “Annaes do Parlamento Brazileiro”, de 1867, o Dr. Marcolino de
Moura “depois de combates gloriosos no Paraguai, voltara ao interior da Bahia
para ali adquirir voluntários” para a guerra. Sabendo que um determinado grupo
de homens estava preso e seria submetido a processo pela morte de um guarda,
resolve o tenente-coronel intervir, pedindo ao Delegado daquela circunscrição
que consentisse em que os presos seguissem viagem consigo na condição de
voluntários. Obtida a concordância, os novos recrutas foram conduzidos sob
custódia do tenente-coronel à Capital da Província. No debate, o deputado Almeida
pleiteava a nulidade da votação havida meses antes, afirmando o tenente-coronel
teria atuado no sentido de beneficiar um correligionário seu que se candidatava
naquele pleito.
A
despeito da discussão sobre a natureza da intervenção do Tenente-coronel na
prisão ou soltura daqueles cidadãos, se tivera ou não o objetivo de ajudar um
companheiro de partido, o que nos interessa no momento é destacar que após sua
participação na frente da guerra, ele retorna à Bahia para compor um novo
agrupamento de soldados, mais ou menos “voluntários”.
Finalmente,
o último achado da pesquisa é igualmente peculiar e se refere ao uso da
capoeira na guerra. Segundo o artigo “Reflexões sobre o surgimento da capoeira
no Brasil: um olhar sobre a história”, os autores (Gorito e Assis) reportando a
outro estudo de Ferreira(2007) sobre a Guerra do Paraguai ressalta a prática da
capoeira numa situação extremamente delicada.
Assim,
afirmam que “por ocasião do assalto final e a tomada da ponte de Itororó”, a 12
de dezembro de 1968, os soldados do 31º Corpo de Voluntários da Pátria sob o
comando do Coronel Assunção, “seguidos pelos zuavos baianos sob o comando do
Dr. Marcolino de Moura e Albuquerque, vendo esgotada a munição em pleno combate
corpo a corpo... jogaram fora as espingardas...” e tomando as baionetas
atacaram os inimigos "com arma branca e golpes de capoeiragem". Uma
passagem, vale dizer, no mínimo heróica dos combatentes.
Finda
a guerra, o Dr. Marcolino de Moura retoma seus estudos tornando-se bacharel de
direito, e assumindo a bandeira do abolicionismo, ao lado de Joaquim Nabuco e
outros. Eleito deputado federal, sua atuação no Congresso Nacional não
abandonou a temática da Guerra do Paraguai, mais especificamente, a defesa dos
que lutaram e não obtiveram os benefícios prometidos.
O
projeto de lei 139, de sua autoria, estabelecia a concessão vitalícia aos
oficiais e praças do pagamento de soldo integral correspondente ao posto
ocupado à época da campanha. O projeto buscava tornar efetivo um dispositivo do
decreto imperial de 1865 que criou os Corpos de Voluntários da Pátria. Ocorre
que a aplicação da norma não assegurou o direito a todos os voluntários,
estabelecendo restrições.
Marcolino
argumentava, em outubro de 1905, ao discursar em defesa de sua proposta, que já
havia passado mais de 35 anos desde o fim da guerra e que muitos dos que ali lutaram estavam ao desamparo. Arguia,
ainda, que já era reduzido o número dos beneficiários e que os encargos
assumidos pelo Estado logo cessariam com o desaparecimento completo desses
servidores da Pátria. Nesta campanha, no entanto, o deputado não logrou êxito.
Pouco
tempo depois, em 1908, morre o Bacharel de Direito, Abolicionista,
Tenente-Coronel na Guerra do Paraguai, Constituinte de 1891, Deputado
Provincial, Deputado Federal do Império e da República, o Dr. Marcolino de
Moura e Albuquerque.
NVJ
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