terça-feira, 13 de novembro de 2012

O CORONEL CAZUZA


Nascido em Minas do Rio de Contas, Bahia, em 1846, descendente de açorianos que aportaram na Bahia em fins do século XVIII, José de Vasconcellos Bittencourt Júnior, mais tarde conhecido carinhosamente como Coronel Cazuza, migrou em direção ao Sul do país ainda jovem, tendo chegado à Casa Branca, São Paulo, no ano de 1878. São escassos os registros de sua estadia na Bahia, entre as quais uma procuração registrada em cartório do município de Caetité, através da qual autoriza a venda de escravos a ele pertencentes. Era um expediente muito usado em razão das restrições crescentes ao tráfico de negros, inclusive de uma província para outra. 

Em terras paulistas desenvolveu atividades empresariais e políticas. Exerceu mandato de vereador casabranquense no período de 1883 a 1887. 

Aqui vale uma pausa para tratar de uma questão de natureza genealógica. Merece comentário uma nota publicada no jornal O Estado de São Paulo, datada de 30 de julho de 1882, e assinada por um cidadão chamado Augusto Cesar Correa. O referido senhor se sentiu na obrigação de esclarecer que apoiou José de Vasconcellos Bittencourt Júnior para vereador naquelas eleições, negando que houvesse votado em outro candidato. A novidade a ser destacada nesta publicação, nem sempre registrada na maioria das anotações encontradas, é a referência ao complemento "Júnior" acrescido ao nome do então futuro Coronel, indicando que fora batizado com o mesmo nome do pai. Esta informação deve ser agregada a tantas outras, inclusive certidão expedida por Cartório de Rio de Contas, dando conta chamar-se José, o pai de Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt. Este é, portanto, mais um dado que sugeria que o Coronel Cazuza e Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt eram irmãos. Esta dúvida foi sanada conclusivamente com a análise do Inventário de Dona Rodriga de Castro Meira Vasconcellos, sua mãe.

Voltemos à trajetória do Coronel Cazuza no interior paulista, para destacar o seu papel na emancipação do município de Thambaú, desmembrado de Casa Branca em 1898. Considerado um dos principais emancipadores, foi eleito e empossado como primeiro presidente da Câmara da nova municipalidade. Também outros parentes se dedicaram à vida política: Augusto e Rodrigo, Gabriel e Augusto Júnior, principalmente em Casa Branca.

Em 1886, há registros da participação do Coronel em uma "reunião de capitalistas" conforme noticiou o periódico A Província de São Paulo. O objetivo era discutir a ampliação da estrada de ferro de modo a alcançar o município de Casa Branca, a partir da via férrea D. Pedro II. A mesma nota registra que passou a integrar comissão eleita naquela oportunidade para levar adiante o objetivo, que mais tarde se concretizaria. A ferrovia foi muito importante para o desenvolvimento da economia cafeeira na região. 

O Coronel Cazuza foi proprietário de diversas fazendas ou partes delas, entre as quais a Fazenda Terra Vermelha, a Fazenda Palmeiras da Terra Vermelha (com 824,3 ha), bem como a Fazenda Terra Vermelha de Cima, todas localizadas na região de Casa Branca. Em alguns destes empreendimentos teve como sócio Augusto de Vasconcellos Bittencourt. 

A intensa atividade política como vereador e dirigente partidário, implicou na divulgação de fatos da sua vida pública, e também privada, nos jornais da época. O correspondente do jornal O Estado de São Paulo, em Casa Branca, registrou em fevereiro de 1901, por exemplo, que um baile realizado em sua residência contou com a presença da "flor da sociedade de Tambaú", festejando até o amanhecer. No mesmo ano, em dezembro, é ressaltada a sua escolha na Convenção partidária municipal para participar da reunião do Diretório estadual na capital paulista. As notícias da sua movimentação são de tipo variado, inclusive sobre de natureza particular: em 1890, é registrado como hóspede recém chegado no Hotel Franca, em São Paulo; em julho de 1899, faz publicar nota dando conta da perda de uma mala na primeira classe do trem de São Paulo a Casa Branca, na qual haveria documentos, prometendo recompensa; em junho de 1901 esteve "ligeiramente enfermo"; em julho, deslocou-se a São José do Rio Pardo para “buscar sua esposa que ali se achava em tratamento”; também em julho de 1901, é empossado em grau mais elevado na Loja Maçônica Humanidade e Progresso; em fevereiro de 1902, seguiu a passeio para Ribeirão Preto. Como se vê são referências ao cotidiano de alguém que o noticiário considerava importante registrar em função de seu papel na sociedade local. 

Sua dedicação à política não o fez descuidar dos negócios, contudo, especialmente na condição de produtor de café. Conforme o periódico A Província de São Paulo, o então capitão teria recusado uma oferta de 70:000$ (70 contos de réis) por sua safra de café, em Casa Branca, no ano de 1902. Ainda sobre as atividades rurais, há registro de uma hipoteca no ano de 1890 e, em 1906, um empréstimo de 80:402$720 réis com juros de 12% ao ano, entregando em garantia uma safra de café calculada em 20 mil arrobas, depois de beneficiada. 

Com o encerramento do seu mandato na presidência da Câmara de Tambaú, em 1902, não se encontra novos apontamentos sobre sua atividade, salvo vinte anos depois, em novembro de 1921, quando, aos 73 anos, presidiu uma assembleia para a criação da Irmandade Beneficente de Tambaú. Em 30 de janeiro de janeiro de 1925, aos 77 anos, morre o Coronel, que continuou sendo lembrado pela Loja Maçônica do município que ajudou a fundar. Anualmente, cidadãos que se destacam naquela localidade paulista, são homenageados com a entrega de uma Honraria que leva o nome do Coronel Cazuza, que segundo os organizadores é como se tornou conhecido popularmente o Sr. José de Vasconcellos Bittencourt. Novembro/2012

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