sábado, 27 de agosto de 2016

Priscas eras


Na Serra do Espinhaço, antes de chegar à Chapada Diamantina, no alto sertão da Bahia, nasceu a cidade de Caetité. Destacou-se muito tempo como importante centro educacional e cultural. Jovens de toda a região para ali se deslocavam para frequentar a Escola Normal, ou a Escola do Padre Palmeira.

Talvez por isso, famílias tradicionais desenvolveram estilo próprio no uso da língua portuguesa. Estilo só visto em priscas eras, quase um idioma próprio, em função da inacessibilidade da gente comum à compreensão do que se falava nas casas daquela elite local.

Questionados sobre a sofisticação do linguajar, respondiam impávidos: "cada símio na ramificação arbórea que lhe compete", demarcando o campo. A empregada, coitada, ficou atônita quando lhe ordenaram: "tome um elemento cortante, vá ao pântano cercante, e deixe o suíno inerte". Saiu correndo, apavorada, antes que se lhe acometesse algum mal.

Não gostavam, contudo, de muita conversa e, enfadonhos com o falar simplório do povo do lugar, diziam impacientes: "interlóquio para acalentar bovinos nos braços de Morfeu".

Em geral, a frase não surtia qualquer efeito, senão espanto ou desconcerto.

Foi de Caetité, no entanto, que saiu um dos grandes educadores do Brasil - Anísio Teixeira, que defendeu um amplo movimento pela alfabetização e estímulo à educação popular e de tempo integral.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O Barão de Villa Velha


Joaquim Augusto de Moura nasceu em Rio de Contas, Bahia, no ano de 1828, vindo a falecer a 21 de maio de 1898, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de Martiniano Moura e Albuquerque e Francisca Joaquina de Carvalho Vasconcellos, de tradicionais famílias do alto sertão baiano, teve duas irmãs, Ana Amélia de Moura Vasconcellos, casada com o Major Francisco de Vasconcellos Bittencourt, e Maria Florinda de Moura Albuquerque, casada com Faustino Fogaça de Souza.

A "Casa do Barão", na localidade de Lagoa do Timóteo, a 56 quilômetros da sede do município de Livramento de Nossa Senhora, é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico da Bahia - IPAC. Construída originalmente como Casa dos Coqueiros, no século dezoito, teve a sua ala direita construída em meados do século XIX, provavelmente por Joaquim Augusto de Moura. Reforça esta tese a informação e que neste período teria passado a residir na região, onde já morava a sua mãe(1).

Em novembro de 1861, o Capitão Joaquim Augusto foi promovido a Tenente-Coronel, Comandante do 57o. Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional do Município de Minas do Rio de Contas, sendo reformado no posto de Coronel, dezoito anos mais tarde, em fevereiro de 1879.

Nesse meio tempo, um fato relevante é registrado. Em 1863, o Tenente-Coronel Joaquim Augusto de Moura recebe uma suspensão das suas atividades na Guarda Nacional por alegadas razões de descumprimento de ordens do Presidente da Província da Bahia, Antonio Coelho de Sá Albuquerque, por ocorrência militar registrada no ano anterior em desdobramento a um recrutamento de cidadãos riocontenses. Contudo, suspeitas foram levantadas quanto às razões de natureza político-eleitoral, que seriam as reais motivações para a punição(2).

Em maio de 1873, o Imperador D.Pedro II concede a Joaquim Augusto o título de Barão de Villa Velha, em retribuição a vultosa doação de 10 contos de réis que fizera para a "instrução pública" de Rio de Contas. Vila Velha é uma referência à sede do atual município de Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, na borda da Chapada Diamantina, fazendo divisa com o município de Rio de Contas. Posteriormente, foram registradas várias doações feitas pelo Barão, seja para o esforço da Guerra do Paraguai, ou para instituições de caridade, principalmente no período em que passou a morar no Rio de Janeiro.

Seu deslocamento para o sul do país é apontado por estudiosos da história regional da Bahia, sendo, no entanto, residual o registro de sua passagem por São Paulo e deslocamento para o Rio de Janeiro.

A partir de 1881 são encontradas inúmeras referencias à sua presença no Rio de Janeiro em jornais da época, seja por seu papel na administração da Santa Casa de Misericórdia(1881 a 1888) ou como membro do Conselho Fiscal do Banco do Brasil(1886 a 1890), membro da Ordem Terceira de São Francisco de Paula, ou sorteado para integrar Juri. Também são anotados registros do seu deslocamento anual para Petrópolis no período de novembro a fevereiro, quando o verão era mais intenso. Até mesmo um roubo que foi vítima quando se hospedava em um hotel do Rio, em 1882, mereceu registro nos jornais.

Em 1881, recebe a Comenda da Real Ordem Militar Portuguesa de Nossa Senhora da Conceição da Vila Viçosa. Três anos depois, foi nomeado para a Ordem da Rosa, alta condecoração do Império.

Em 1898, após longo período de enfermidade, morre aos 70 anos em sua casa, à Rua Senador Vergueiro, no Rio. Seu corpo foi sepultado em jazigo bem ornamentado no Cemitério do Catumbi. Entre os presentes, seu primo, ex-deputado Marcolino de Moura Albuquerque, e seu sobrinho Leonel Rocha.

A 7 de julho de 1922, faleceu, também no Rio de Janeiro, a Baronesa Carlota Joaquina de Matos, esposa de toda a vida, nascida em Rio de Contas. Não deixou descendência(3).
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(1) Mozart Tanajura, em "História de Livramento. a Terra e o Homem". 430 páginas. Ed. Secretaria da Cultura e Turismo - Bahia. Salvador, 2003.
(2)  Informações complementares em textos publicados em vasconcelosbahia.blogspot.com
(3) As informações aqui detalhadas, foram obtidas em jornais, em especial das décadas de 80 e 90 do século XIX, entre os quais o Diário do Commércio, Diário de Notícias, Gazeta de Notícias, Diário do Brazil, O Paiz,entre outros.

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