sábado, 27 de agosto de 2016

Priscas eras


Na Serra do Espinhaço, antes de chegar à Chapada Diamantina, no alto sertão da Bahia, nasceu a cidade de Caetité. Destacou-se muito tempo como importante centro educacional e cultural. Jovens de toda a região para ali se deslocavam para frequentar a Escola Normal, ou a Escola do Padre Palmeira.

Talvez por isso, famílias tradicionais desenvolveram estilo próprio no uso da língua portuguesa. Estilo só visto em priscas eras, quase um idioma próprio, em função da inacessibilidade da gente comum à compreensão do que se falava nas casas daquela elite local.

Questionados sobre a sofisticação do linguajar, respondiam impávidos: "cada símio na ramificação arbórea que lhe compete", demarcando o campo. A empregada, coitada, ficou atônita quando lhe ordenaram: "tome um elemento cortante, vá ao pântano cercante, e deixe o suíno inerte". Saiu correndo, apavorada, antes que se lhe acometesse algum mal.

Não gostavam, contudo, de muita conversa e, enfadonhos com o falar simplório do povo do lugar, diziam impacientes: "interlóquio para acalentar bovinos nos braços de Morfeu".

Em geral, a frase não surtia qualquer efeito, senão espanto ou desconcerto.

Foi de Caetité, no entanto, que saiu um dos grandes educadores do Brasil - Anísio Teixeira, que defendeu um amplo movimento pela alfabetização e estímulo à educação popular e de tempo integral.

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