segunda-feira, 1 de maio de 2017

O surgimento dos Moura no Alto Sertão da Bahia

É indiscutível a importância e influência política dos Moura no sertão da Bahia, sobretudo entre Rio de Contas e Livramento de Nossa Senhora, no século XIX, seja nos episódios regionais da Independência do Brasil e da Bahia, seja na famosa guerra dos Moura versus Canguçú, décadas depois. 

Um marco importante, é a chegada à região na segunda metade do século dezoito, do Sr. Martiniano José de Moura Magalhães, vindo das Minas Gerais, o que não é estranho visto que a Estrada Real, cujos vestígios ou trechos são percorridos séculos depois, era uma ligação viária essencial sudeste-nordeste do Brasil.

Na Bahia,  Martiniano casa-se com Maria Efigênia da Rocha Albuquerque, filha de Bernardo de Matos e Albuquerque  e Lizarda Liberata da Vitória Rocha Medrado, "mulher de grande prestígio e opulência", tendo gerado cinco filhos: Maria Efigênia, Francisco José, José Messias, Ana e Lizarda (1). 

Bernardo teria adquirido do seu tio, Salvador Barbosa Leal, as terras entre os rios Brumado e São João, pertencentes ao "termo" de Jacobina, patrimônio esse que resultou em herança muito significativa para Maria Efigênia.

Martiniano e Maria Efigênia deixaram uma prole pequena para o padrão da época. Foram quatro filhos: José Honório, nascido em 1795, Martiniano (1796), Maria Carlota (1798) e Manuel Justiniano (1801). Como ocorria com muita frequência, numa época de precária assistência médica, Maria Efigênia não sobreviveu ao parto, deixando os filhos ainda pequenos, contando o mais velho com apenas seis anos (2).

Martiniano José viveu até 1817, quando assumiu os interesses da família o primogênito, José Honório, então com 22 anos. Na Fazenda São Gonçalo plantava-se algodão, cultivava-se mandioca e criava-se gado vacum. 

Os Moura e Albuquerque possuíam duas propriedades rurais: um sítio em Vila Velha, onde residiam, e a Fazenda São Gonçalo. Historiadores relatam ainda que, em 1821, é realizada a compra da Fazenda Umbuzeiros por José Honório ao Morgado da Casa da Ponte.


A provável  ausência de chuvas, que se prolongava desde 1818 na região, é apontada como antecedentes relevantes nas disputas políticas em Rio de Contas ocorridas entre 1822-23, fazendo com que José Honório e seus familiares passassem por dificuldades financeiras, e fossem motivados a lutar por posições de comando na vila e na política. (Ver referência de Moisés Frutuoso, abaixo referido, em nota)

Mas em outubro de 1822, José Honório de Moura e Albuquerque é assassinado nas ruas de Rio de Contas após uma decisiva reunião da Câmara de Vereadores, que envolvia o posicionamento entre os grupos denominados "brasileiros" e "portugueses" em torno da Independência na Bahia, tendo ele se posicionado pela Independência.

Há registros de que a Dona Maria Carlota de Moura e Albuquerque e irmãos tiveram presença importante nas ações que visaram a apuração do assassinato do irmão José Honório.

Outro irmão, Manoel Justiniano de Moura e Albuquerque, teve significativa participação nas ações ocorridas em Rio de Contas dez anos depois. Manoel Justiniano, que naquele momento ocupava interinamente a presidência da Câmara rio-contense, foi preso sob a acusação de favorecer agressões e assassinatos de seus inimigos políticos, em episódios, ainda pouco estudados.

Na década de 1840, Martiniano, o filho, e Manoel Justiniano de Moura e Albuquerque participaram de um conflito com outras duas famílias sertanejas: os Castros e os Canguçús resultando em muitas mortes, inclusive, do próprio Martiniano de Moura e Albuquerque, em fins de 1845 ou início de 1846. Registros de familiares indicam que Manoel Justiniano de Moura e Albuquerque teria falecido em 1881.

José Egídio de Moura e Albuquerque, Barão de Santo Antônio da Barra; Joaquim Augusto de Moura e Albuquerque, Barão de Vila Velha; Marcolino Moura e Albuquerque, Deputado Constituinte em 1891, netos de Martiniano José de Moura, são alguns dos representantes da geração seguinte dos Moura e Albuquerque.(3)


(1) CAMPOS DE SOUZA, Luiza. CONFLITO DE FAMÍLIA E BANDITISMO RURAL NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX: CANGUÇÚS E “PEITOS-LARGOS” CONTRA CASTROS E MOURAS NOS SERTÕES DA BAHIA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História. 2014.


(2) FRUTUOSO, Moisés Amado. “MORRAM MAROTOS!”: ANTILUSITANISMO, PROJETOS E IDENTIDADES POLÍTICAS EM RIO DE CONTAS (1822-1823). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em História. Pag. 55. 2015.

(3) Todos os estudos tem como referência a importante obra de Risério Leite, "Famílias sertanejas: os Mouras". In: Revista do Instituto Histórico da Bahia. Ano 8, n. 8. Salvador: Tipografia Manu, 1953. 

domingo, 16 de abril de 2017

Um patriarca dos Vasconcellos Bittencourt

De todas as andanças e buscas sobre a origem dos Vasconcellos Bittencourt no Alto Sertão da Bahia, na região onde hoje estão os municípios de Livramento e Rio de Contas,  constitui o relato mais frequente a versão de que três irmãos que vieram dos Açores - José, Manoel e Francisco, teriam desposado três irmãs descendentes de um açoriano chamado Thimóteo Spínola de Souza.

Poucos registros documentais são encontrados, seja sobre a saída dos Açores ou a chegada à Bahia daqueles Vasconcellos Bittencourt. Diferentemente, há registros sobre Manoel de Vasconcellos Bittencourt, um dos irmãos que casaram com as Souza Spínola, no caso a Sra. Anna Delfina. 

No livro de passaportes da Graciosa, nos Açores, no ano de 1833, é reportada a saída de uma família com destino ao Brasil, para receber herança. Esta família é constituída por Manoel de Vasconcellos Bittencourt, à época com 42 anos, sua esposa Anna Theodora, 36, um filho do primeiro casamento, Francisco, 24 anos, e mais dois filhos novos, Manoel, com 9 anos e José, com 7 anos.

O registro do casamento de Manoel e Anna Theodora, em 1823, nos Açores, lê-se a anotação da sua condição de viúvo de D. Anna Delfina de Souza Spinola. Manoel, o filho, nasceu em dezembro de 1823, e o mais novo, José, nasceu em janeiro de 1826.

Os pais de Manoel eram Braz de Vasconcellos Bittencourt e Gertrudes Naves Vasconcellos, que dentre outros filhos identifica-se dois José - um nascido em 1785 e outro em 1794, ambos registrados na matriz de São Matheus, no Concelho de Santa Cruz, na Ilha da Graciosa.

Na análise do inventário de Timóteo Spinola, falecido em 1824, identifica-se referência como herdeiros, em decorrência de casamento com suas filhas, três Vasconcellos Bittencourt: José, Manoel e Francisco.

Há vários apontamentos da presença de José de Vasconcellos Bittencourt na Bahia, mas a única que sugere ser o mesmo José encontrado nos Açores, é aquela encontrada no inventário de Timóteo. As duas famílias tiveram relações de proximidade, desde o arquipélago. Na Graciosa, de onde se originam é mencionado no registro de casamento de Manoel, acima referido, assim como figura como testemunha do registro de nascimento do mesmo Manoel, em 1791.

Entre outros registros de José de Vasconcellos Bittencourt, na Bahia, ressaltamos:1) Em 1838, ao testemunhar no inventário de Sebastião José da Silva Meira; 2) No mesmo ano, num recibo de hipoteca, assina José de Vasconcellos Bittencourt ao lado de Martiniano Moura de Albuquerque e de José Inocêncio Cangussu.

José e Gertrudes tiveram um filho também chamado José, nascido em 1812, conforme registro de batismo. Este último é o provável tenente-coronel José de Vasconcellos Bittencourt, mencionado em: 1) Em 1863, em um episódio que envolveu outro Tenente-Coronel da Guarda Nacional, Joaquim Augusto de Moura, futuro Barão de Vila Velha; 2) Numa lista de eleitores de Rio de Contas, publicada em O Monitor, edição de 5 de novembro de 1876, figurando como eleitor daquela localidade, ao lado de diversos Vasconcellos Bittencourt.

Outras menções a José de Vasconcellos Bittencourt são encontradas no inventário de Rodriga de Castro Meira, falecida em 3 de dezembro de 1863, com quem havia se casado. José e Rodriga eram os pais de Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt, bem como do Coronel José de Vasconcellos Bittencourt Júnior, também conhecido como Coronel Cazuza, em Tambahu - SP, radicados no final dos anos 1800 na região da Mogiana, Casa Branca, São Paulo. Além desses dois descendentes do casal, o inventário aponta Geracina Cândida de Vasconcellos Meira, casada com Deolindo de Souza Meira, Francisco Meira de Vasconcellos e Cleia de Vasconcellos Meira.


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