A Senhora do Lago



Não foi fácil chegar a Copacabana, atravessando toda a Bolívia depois de deixar Corumbá, em Mato Grosso, seguindo por Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba e La Paz. Foi o primeiro trecho internacional de uma viagem de jovens estudantes que ainda atravessaria mais três países até o retorno à terra natal.

Era 21 de janeiro, ano 1976, e onze dias antes tomávamos o trem da morte, próximo a Puerto Suarez na fronteira com o Brasil. Com cem dólares em travelers checks e alguns cruzeiros no bolso, empreendíamos uma verdadeira maratona. O destino era conhecer Machu Picchu, a capital do Império Inca, basicamente porque este era o destino admirado pela juventude. Como chegar lá? Havia uma vaga ideia a respeito. Celular? Esqueça, isto não passava de ficção científica, quando cogitado. Cartão de crédito? Como assim? Como funciona? Máquina fotográfica? Era complicado levar tantos cartuchos de filme(!!!), e a "revelação" também não seria fácil. As cartas, sim cartas, nada de Facebook, Twitter ou E-mail, eram produzidas à mão, afinal, seria complicado levar uma máquina de datilografia. Vale lembrar que a Microsoft tinha menos de um ano de existência e a IBM só lançaria o seu primeiro computador pessoal na década seguinte.

Pois bem, saímos por trem em direção a Santa Cruz de la Sierra, e lá chegamos 27 horas depois. A maior parte do trajeto ocupei o único lugar que havia sobrado: a escada de subida para o trem. Dentro dos vagões, muita mercadoria adquirida pelos bolivianos na fronteira, e espaço das cadeiras era ocupado por colchões. À noite, uma agonia.

Depois de rápidas estadias em Cochabamba e La Paz chegamos à divisa com o Peru, na cidade de Copacabana. Este nome é de origem indígena, quer dizer lugar luminoso e está associado a uma antiga devoção. Naquela região habitada originalmente pelos incas, apareceu a Virgem da Candelária num período de grande ação evangelizadora pelos conquistadores. A adoraçãà Nossa Senhora de Copacabana é antiga, remontando ao século XVI, quando da colonização espanhola.

Considerada muito milagrosa, sua fama correu a América Latina católica, de modo que uma imagem da Santa foi levada ao Rio de Janeiro, ainda no século XVIII. Resultado: a nossa Copacabana, a "princesinha do mar", tem esse nome em função da Nossa Senhora aparecida às margens do Lago Titicaca, e que é a padroeira da Bolívia


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