Amigo é pra essas coisas

Certo dia chega um mensageiro na Lagoa do Leite à procura de Osório. Tratava-se de um pedido de um amigo. Mais que isto, um aparentado de Isaura que, na dificuldade, apelou para o conhecido.

Só que era um pedido que Osório não tinha condições de atender. O que fazer? É que não tinha condições mesmo. Afinal o amigo lhe pedia um apoio financeiro numa soma alta para suas possibilidades naquele momento  um conto de réis era muito dinheiro. Mas não queria que fosse entendido como uma desfeita, ou desconfiança em emprestar.

Conversando com amigos sobre o assunto, Zeca Martins sugere que seu pai José Martins certamente atenderia um pleito de Osório pela amizade que unia as famílias há tanto tempo. Assim, foi feita a consulta e de fato o amigo não faltou.

Agora, o empréstimo seria pra ele Osório, a quem o velho conhecia, mesmo sabendo que teria dificuldade em honrar o compromisso caso o valor não fosse pago pelo parente que fizera o apelo.

O empréstimo não tinha prazo e, uma vez repassado ao parente, Osório nunca mais ouviu qualquer referência sobre pagamento. Preocupado, inclusive com os juros, ouvia do amigo José Martins: "Não se preocupe, não estou precisando. Pode ficar tranquilo”.

Passado um tempo, o velho Martins veio a faltar, morreu. Aí é que Osório não parava de pensar no assunto. Receber o dinheiro de volta já havia perdido as esperanças, e ele não ficava à vontade pra cobrar. Os herdeiros, pensava ele, não teriam a mesma compreensão que o velho, iam querer receber o dinheiro com juros e mais o que houvesse para acrescentar.

Zeca Martins, entretanto, sabia de toda a história e tomou suas providências. Numa visita a Osório, revelou: "Está tudo resolvido". Como assim? Quis saber Osório, "eu assinei uma promissória".


Pois é, atalhou Zeca, durante a separação do levantamento dos créditos e das dívidas, tirei a promissória sem que ninguém notasse. "Não joguei fora, está aqui pra você mesmo rasgar". Osório, agradecido, disse estar sem palavras para demonstrar a gratidão. "Que é isso, não seria justo você pagar uma dinheiro que não ficou com você, uma dívida que não é sua".

Assim se cultivava as amizades no alto sertão da Bahia.





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