Paluchia


Osório tinha um compadre, lá em Ubiraçaba, que era açougueiro. Seu Graciano era o nome dele. Chamado de marchante, como era o costume, comprava, matava o gado e vendia para o povo do lugar. Vizinho, morava do outro lado da praça, distante uns cinqüenta metros de onde Osório e Isaura viviam com os filhos, depois que chegaram de mudança da Lagoa do Leite.
Seu Graciano matava bois nos fundos da casa. Certo dia, no entanto, acordou logo cedo, cavador na mão, começou a abrir um buraco e em seguida fincou um mourão em frente da sua moradia. Aos poucos foi juntando gente, intrigada com os planos do açougueiro.
Logo, ele amarrou um boi, soltou uns foguetes, deu um tiro de pistola pra cima e gritou:
- meus amigos, eu vou dizer umas paluchias. De agora em diante eu vou matar gado aqui no "oculto" pra todo mundo ver, porque matando lá no fundo, a carne não tá tendo saída.
O que ele entendia por oculto, não dava pra entender. Mais intrigado ficou Nilton, filho de Osório, que a tudo assistia: "paluchia!", remoía. Achou a palavra bonita, pra dizer a verdade, diferente, mas não fazia ideia do que significava.
Recorreu a uma velha que tinha chegado de fora, lá do Rio, que imaginava ser mais letrada, e perguntou a ela o que era “paluchia”. Em resposta, ouviu  o que mais parecia uma charada: “meu filho, isso não quer dizer nada, é amor de irmão, é comer farinha com beiju, é mais ou menos, é uma coisa sem graça, isso é paluchia”.
Assim, Nilton continuou até o fim dos seus dias na dúvida sobre o que era, afinal, a tal da “paluchia”.

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