Prostatite

Seu Manoel Bento Sobrinho vivia pros lados da Lagoa do Leite. Pessoa humilde, nunca frequentou a escola, em parte porque as condições do local não permitiam, mas também pela dificuldade de trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Foi em contato com viajantes que subiam e desciam para Caetité, Bom Jeus da Lapa ou Brumado que aprendeu a ler. Quem passava por ali parava pra tomar informação sobre as condições da estrada, o tempo de viagem restante, ou ainda para tomar um copo-d'água, um cafezinho, ou por qualquer outra necessidade. Dessa forma, Seu Manoel teve contato com jornais impressos e com a ajuda de um ou outro tornou-se um leitor contumaz. Assim, dava a todos as últimas notícias que lia nos velhos periódicos.
Não deixava de ser, portanto, um sujeito informado, mas continuava a carregar velhos costumes e preconceitos.

Lá pelos anos trinta, incomodado com umas dores, foi à capital se tratar e lá recebeu o diagnóstico de prostatite, sendo submetido a uma "operação". De volta à Lagoa do Leite, Seu Osório quis saber como estava a sua saúde, enfim, se deu tudo certo com o tratamento que fez na cidade da Bahia.

Em resposta, Seu Manoel Bento foi logo dizendo: "Capitão Osório, sou um homem desmoralizado!".
"Como assim?", perguntou o amigo.
Com algum constrangimento e humor característico, Seu Manoel contou sobre os meios empregados pelo médico para chegar ao diagnóstico da doença e sobre os procedimentos pré-operatórios.

"Capitão, depois daquela humilhação, o médico marcou a cirurgia e mandou que eu fizesse um 'asseio' na região"

No dia certo, continuou Seu Manoel, tomei um banho bem tomado e fui pro hospital. Chegando lá, o médico disse que eu não tinha entendido direito, que eu tinha que 'fazer o pelo', mas que não me importasse que as moças da enfermagem iam fazer o serviço.

"Aí já era demais. Eu falei:"
Doutor, minhas partes ninguém nunca viu. Vou dizer pro senhor, nem minha mulher já viu. Lá em casa, pra fazer filho, é com a porta trancada, o candeeiro apagado, e só tira a roupa debaixo da coberta.
Pois seu Manoel, disse o médico, é assim ou não tem operação.

Foi assim que o catingueiro, sem ter alternativas, tirou a roupa pra 'fazer o pelo'. Colocou um travesseiro no rosto e bradou com a coragem necessária: "come onçacome".

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