Rumo ao desconhecido

Era o ano de 1976. Um ano antes, eu havia ingressado na Universidade Federal da Bahia para cursar arquitetura. Era um período de intensa atividade no movimento estudantil, e eu acompanhava com interesse assembleias e reuniões, mas não tinha maior engajamento, o que só veio mais tarde.

Conversando com amigos, colegas desde o segundo grau, resolvemos que nas férias viajaríamos para Cuzco, no Peru. Começamos a reunir esparsas informações com conhecidos que já tinham feito a viagem, e preparar o roteiro: ir até Corumbá, no Mato Grosso(não existia ainda o Mato Grosso do Sul), pegar o trem da morte que levaria até Santa Cruz de la Sierra, ir a Cochabamba, dormir num hotel nas cercanias de La Paz, daí seguir ao Peru. Pronto! a viagem estava programada... Se tínhamos alguma informação a mais, não era muita, nem sequer fazíamos ideia que acabaríamos atravessando quatro países e boa parte do Brasil, numa jornada de 40 dias.
Dinheiro? Uns cem dólares para cada e o equivalente em cruzeiros no bolso devia bastar...
Realmente uma aventura!

Se ainda estivesse viva à época, minha mãe certamente não teria consentido com a viagem. Protetora como sempre, encontraria argumentos para convencer-me e, especialmente ao meu pai, para não apoiar a iniciativa. Mas eram outros tempos, e muitos dos riscos que enfrentamos hoje são possivelmente maiores que aqueles de décadas passadas. 

Assim, éramos quatro estudantes, no mês de janeiro partimos de ônibus, primeiro para Belo Horizonte, depois para São Paulo e de lá seguiríamos de trem até Corumbá. Mas como todo plano, logo exigiu uma alternativa, pois não chegamos a tempo. O trem já havia partido. Restava-nos comprar uma passagem de ônibus para Campo Grande, onde alcançaríamos o mesmo trem, ainda que saíssemos horas depois de São Paulo.

Enquanto esperávamos, deixamos a bagagem na Estação da Luz e resolvemos pegar o metrô para visitar uns parentes de um dos colegas. Faríamos um lanche e retornaríamos a tempo para embarcar.

Na estação do metrô, a dúvida sobre o rumo a tomar. Logo, chega a composição e, enquanto resolvíamos, soa a sirene que anuncia o fechamento das portas. Todos entram, menos eu. Lá se foram os meus colegas, e eu fico só, na plataforma, na minha primeira viagem à grande metrópole.

Restou-me seguir para a estação rodoviária, que à época não era distante do metrô, e esperar até o horário da partida. Felizmente, a estratégia deu certo e, juntos seguimos para um mundo desconhecido. 

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