Seu Nilton em Guanambi

Senta que este causo é comprido.
Essa história não está no livro, e conta a sua chegada à Guanambi. Vamos lá.
Ele tinha feito concurso para para a Secretaria da Fazenda do Estado entre 48 e 49 e tomou posse no dia do seu aniversário, em 1949, ficando lotado em Ubiraçaba. Atuava também em Malhada de Pedras, mas com três ou quatro meses já tinha sido promovido, pois havia necessidade de pessoal em outros municípios.
Ele queria ir pra o sul, Itapetinga, por ali, pois tinha notícia que todo mundo que ia pra lá ficava rico. Mas Dona Isaura, sua mãe, não queria nem ouvir falar, pois soube que na região tinha muita febre, que morria muita gente. "Pra lá, não!"
Foi quando saiu a promoção para Piatã, mas era um lugar muito atrasado. O colega Milton Ventura Esteves, sabendo que meu pai não queria ir, viu que tinha vaga aberta em Guanambi e tomou a iniciativa de telegrafar pedindo a transferência dele para lá.
Mas logo vieram notícias de que o coletor de lá era um sujeito complicado, confusento, brigão, que tinha até sido preso. Era filho do prefeito, Seu Zezinho, um tal de Otelino, que fazia e acontecia.
Foi aí que Dona Isaura se rebelou, preferia ver o filho se arriscar com a mata, ter a notícia de que o filho morreu de febre do que morreu matado. Um terror.
Nilton, no entanto, disse que se foi designado pra lá, tinha que ir. Era esperar e ver o que ia acontecer. Um parente dele, Leonel Risério dos Santos, que tinha ido para Goiânia, logo recomendou: "quando eu fui pra lá a fama do lugar não era boa. Mas você tem que enfrentar, se o sujeito é valente você tem que ser mais ainda"
Assim é que se despediu da mãe, nessa época moravam na Lagoa do Leite, e foi pra estrada esperar um carro para Caetité, pois não tinha transporte direto pra Guanambi. Lá na estrada encontrou o Major Prates, Antonio Xavier Prates, que esperava um carro para Brumado. Conversa vai, conversa vem, Nilton falou do novo posto que ia assumir e do receio que tinha.
Foi aí que o Major disse a ele: "Olhe, não conheço Otelino, mas quem tem um pai como Seu Zezinho Ferreira, não pode ser tão ruim assim, porque não tem ninguém mais honesto e mais direito. Pode ir tranquilo. Eu não conheço, mas deve ser uma pessoa direita".
Nilton acabou encontrando Senhor Teixeira que ia levar uma carga em Brumado e voltava no fim da tarde, seguindo para Guanambi. Assim, ele pegou a mala de couro nova que tinha comprado - o baú que ainda hoje está na Fazenda Palmeira só iria depois, e protegendo-se do sol com o guarda-chuva também novinho, voltou pra Lagoa do Leite e só retornou na hora de pegar o transporte.
Na viagem, já saindo de Caetité, Nilton encontra com Otelino que foi deixar a filha Ely, para estudar. Queria que esperasse para ir com ele no dia seguinte, como já tinha acertado a viagem ele disse: "então, você vai e fica na pensão de Dona Ninha, diga que fui eu que recomendei".
Assim foi vendo que sujeito não era como havia sido pintado.
Do outro lado, em Guanambi já tinham notícias dele. João Cidão, que havia comprado umas vacas de leite que Nilton tinha lá em Malhada de Pedras, contou que o escrivão era uma pessoa muito boa, solteiro, e mexia com gado.
Assim, no outro dia, depois da chegada ao destino, Otelino leva Nilton para tomar um café em sua casa. Lá, Dona Lia, sua esposa, diz que tinham boas notícias dele, e pergunta: "Então, qual é a notícia que você tem de Guanambi?"
E Nilton respondeu: "A pior possível! Me falaram que Otelino só vivia preso, que batia em gente. Vim porque o velho Prates recomendou". Assim, foi fazendo amizade com a futura cunhada.
A partir de então, toda vez que Otelino ia a Brumado fazia questão de visitar o velho Prates, de quem ficou muito amigo, pois havia elogiado seu pai.

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