"Taba"

Por volta de 1940, Nilton passava uns tempos na fazenda Lagoa do Leite, onde nasceu e de onde havia se mudado anos antes para Ubiraçaba. Osório, seu pai, sempre era convidado para as festas do lugar e certo dia, sua comadre Sianinha do Campo Redondo, mandou convidá-lo para uma festa de casamento. Pra não ir sozinho, levou o filho junto.

Nessa época, em toda região, homem não dançava com mulher, era só mulher com mulher e homem com homem, tudo em salas separadas. Nilton, já com dezoito anos, não dançava de jeito nenhum. Nisso, um dos convidados da festa o chama pra dançar. Ele, que nunca tinha dançado, disse que não ia. O sujeito foi se queixar a Osório, dizendo que  tinha levado uma ‘taba’. “Seu filho me deu uma 'taba', não quis dançar comigo”. Aí Osório explicou que não era desfeita, que o rapaz não dançava com ninguém, nunca havia dançado, não sabia e tal. Foi difícil, mas afinal o sujeito se convenceu:  “se é assim, tá desculpado”. Chegaram a dizer que o camarada puxou a peixeira, furioso, mas não chegou a isso.

Passado um tempo, em Samambaia, passou um padre. Daniel. Falavam que era maluco, mas era pessoa muito inteligente, isso sim, só vendo como era. Ele ia muito às festas, mas não dormia na casa de ninguém, mandava botar a cama dele na igreja mesmo. E logo cedo saia de pijama e de chapéu andando por ali por perto.

Foi numa festa, na casa dos Martins, que esse padre ensinou Nilton a dançar. Na verdade, ele pegava as mocinhas pra dançar. Era padre, podia. Mesmo assim, diziam que ele se aproveitava das meninas. Todo mundo queria dançar com o padre e lá vai pra aqui, lá vai pra acolá. "Não sei porquê, gostou de mim", contava Nilton, e  chamava pra dançar a três. Nilton, com as pernas duras, que não movia de maneira nenhuma, o padre e uma mocinha.

Dessa maneira que ele aprendeu a dançar - com o padre, e nunca mais deu taba em ninguém.

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