Tiãozito

Domingo, à tardinha, início da noite, fim de dezembro, e toca o celular. O código de área era de Minas Gerais. Pensei que deveria ser o tio Messias com quem vinha tratando da doação da sua biblioteca para ser instalada em Guanambi.

Atendo, e uma voz pergunta "é Fernandinho?" Tio Messias tem o costume de conversar mais com Fernando, deve ser ele, mas essa voz... Uma voz forte para um senhor de 92 anos. "Não, é Nilton", respondi.

"Ô Niltin, aqui é Tiãozito", disse-me, afastando as minhas incertezas.
A que devo essa honra? perguntei.

"Rapaz, estou lendo o Lagoa do Leite e estou gostando muito. Conheci aquele pessoal todo,  os Bonfim, Seu Manuel Bento Sobrinho... Todo mundo. Fui tabelião e conhecia tudo, chegaram até a querer que eu fosse candidato a prefeito. Disse que não, que já tinha muito serviço com o Tabelionato."

Conversamos um tempão. De relógio, uns dez minutos, mas no tempo contado pelo prazer do telefonema, foi uma eternidade.

Ele estava animado, falou do seu novo livro que já está no prelo, e deu tempo pra contar um causo sobre uma viagem que fez com Dona Miúda.

Estavam indo para Caetité numa Brasília. O filho mais velho, Trajano, também estava no carro. Na estrada de terra, lá ia ele devagarzinho, catando os buracos, pra não causar incômodo aos passageiros e em especial a avó da sua querida Céldia.
Lá pelas tantas, Dona Miúda volta-se pra ele e diz:
- Ô meu filho, dá pra andar um pouquinho mais depressa, senão eu vou perder a missa!
Imagine, Tiãozito com todo cuidado, crente que estava agradando, e em vias de cometer um pecado: fazer Isaura perder a reza.

Valeu, Tiãozito.
Um abração

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