Ton

Era pra ser Carlos, mas Isaura lembrou de Carrin da Baixa da Braúna. É que o povo começa chamando de Carlinhos, depois vira Carlin e aí vira Carrin. Já pensou? Pra diferenciar vão chamar de Carrin da Lagoa do Leite. Não dá não, só vendo outro.
Álvaro, pensou. É forte... Álvaro. Mas vão chamar logo de Alvinho, Alvin. Não gostei! Dá certo não!
Que tal Nilton? Nilton, Nilton, Nilton... repetia mudando a entonação. É! Acho que está bom. Então, vai ser Nilton. Lá vai Osório pro Cartório de Ubiraçaba fazer o Registro. O nome anotado num pedaço de papel, pra não ter erro. Chegando lá o Tabelião olhou e disse:
- só se for com "ew". Com "il" não pode, não existe.
A notícia não agradou Isaura. "Não existe como? Existe sim. Eu vou lá". Pegou um livro ou revista que viu o nome, já foi meio braba, "como, não pode?" O certo é que voltaram de Ubiraçaba com a certidão na mão, e lá estava escrito N-I-L-T-O-N com todas as letras.
Não passou muito tempo e o menino virou Ton, não teve jeito. Todo mundo chamava de Ton, até que apareceu um cidadão muito sisudo e compenetrado e disse:
- Ô Antônio...
- Antônio? Meu nome não é Antônio
- Ué? Então como é que você chama?
- Nilton
- Eu não gosto de apelido. Gosto de chamar a pessoa pelo nome. Ouvi chamarem "Tôin" então só podia ser Antônio...
- Não é Tôin, é Ton, de Nilton.
- Ah! Sim.
E pensar que Isaura teve tanto trabalho para escolher o nome desse menino!

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